Tic, tac, tic, tac. Há muito tempo meu despertador já não tem este barulho. Hoje em dia posso escolher acordar com o John Mayer cantando. Até que eu comece a sentir raiva dele por interromper meus sonhos todos os dias.
Água correndo no chuveiro, o leite quente no microondas, a sirene da ambulância que chega no Hospital Santa Paula. Maria Rita cantando no meu rádio é interrompida pelo avião da TAM chegando em Congonhas. Eu já acostumei. Só percebo umas cinco vezes por dia.
Secador de cabelo, o meu salto avisando ao vizinho de baixo que está na minha hora de sair. A máquina do elevador, o alarme do carro. Ligo o rádio prá saber do trânsito. Passa o primeiro motoboy. Num dia de raiva eu ainda atropelo um. Donos das ruas e das buzinas mais irritantes do universo.
Tic, tic, tic das teclas do computador, toque do telefone, gente falando o seu nome o dia inteiro. Pareço estressada? Impressão. Rotina. Falando em rotina, trovões. Barulho de chuva, de árvore caindo. Susto.
Na padaria a televisão está ligada. O palmeirense do caixa conversa sobre futebol. Há muitas outras conversas que juntas formam um zunido único. O som dos talheres em colisão. Lá vem uma Harley, tão chata quanto o motoboy.
Em casa. A obra ao lado ainda não terminou. Durante a noite ainda tem o caminhão do lixo, os caminhões pipa. As ambulâncias e os aviões continuam. Telefone no silencioso para não ser acordada pela promoção relâmpago da Fnac no meio da noite.
Busco silêncio dentro de mim e fico feliz quando encontro. Esta é uma difícil missão em São Paulo.